19 de julho de 2011

Nós gostamos das "coisas" porque são belas? Ou as "coisas" são belas porque gostamos delas?

Lançaram-nos esta questão e decidimos falar um pouco sobre ela.

As coisas nunca poderão ser belas, porque são apenas volume no espaço/tempo. A beleza parte, portanto, de quem a interpreta. O objecto apenas tem o poder de despertar um sentimento abstracto de beleza que não reside em si, mas no sujeito em causa. Uma coisa não pode ser bela em si porque a beleza é-lhe algo externo.

Quando nos perguntam se as coisas são belas porque gostamos delas, não podemos deixar de pensar no tema central do TDE: a personificação da beleza. Neste caso temos de levar em consideração a origem e a função do conceito, o intermédio entre o sujeito e o objecto. Como o objecto não sobrevive sem alguém que interprete a sua forma, deduz-se que o conceito inerente às coisas não parte delas, mas do sujeito que as interpreta.

Assim sendo, a beleza objectiva, uma beleza que se fundamenta a partir dos conceitos, não é universal: trata-se de um juizo de gosto individual que difere, ou pode diferir, de sujeito para sujeito (os portadores de conceito).

Assim, o TDE responde que as coisas são belas porque gostamos delas.

3 comentários:

Marta disse...

vi o teu blog através da página da Fbaul e vim espreitar. Agora com este post não poderia deixar de comentar.

Muito embora concorde em geral contigo, não deixa de haver um certo sistema de beleza universal, embora ele não se aplique em geral ao domínio das artes (nas artes sim, definitivamente concordo que as coisas são belas porque gostamos delas).
Também nos é ensinado, ou será à priori?, um certo sentido estético a partir do qual modelamos o sentido particular. Por exemplo, ensinam-nos que as borboletas são belas, ou as flores, ou o por do sol, ou os olhos azuis.
Sobre esse tipo de coisas, que são muito mais do âmbito da beleza natural, ou da natureza que é bela - o que já é um pensamento platónico- há um sentido universalizante. as coisas, neste contexto, já são belas em si. E exactamente porque estas são belas, começas a formar uma opinião sobre o que mais é belo para ti, o que é que, para além destas, te poderá passar um sentimento como este.
Não concordas?

The Dorian Effect disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
The Dorian Effect disse...

Olá Marta,

Tens toda a razão quando te referes à beleza subjectiva e universal, daí o cuidado em evidenciar de que tipo de beleza estou a falar: a objectiva, na qual se revela a personificação do belo. A beleza, a meu ver, tanto pode ser ensinada como inerente ao indivíduo, pois trata-se de um sentimento, que sem o homem, não existe. Diria que em parte depende do contexto cultural e histórico do sujeito: o que nos faz pensar que as borboletas ou uns olhos azuis são belos resume-se a um gosto individual generalizado. Não será que achamos que as borboletas são belas porque são graciosas e têm, em geral, padrões agradáveis? Como pode esta beleza ser à priori, se vem do sensível (que, por sua vez, se traduz em conceitos e em gostos particulares)? Relativamente à universalidade da beleza, as coisas aparentes para um certo todo podem ser belas, não por serem belas em si mas porque despertam o mesmo sentimento para todos, mesmo que cada um a interprete à sua maneira. Falar de beleza em si, talvez seja falar de um sentimento em si e nunca de um objecto, ou seja, as coisas não são belas em si, são simplesmente em si mesmas.

Quando consideramos a natureza como bela, estamos a falar da beleza dos sentidos e, por mais absurdo que possa parecer, na minha perspectiva, também esta beleza nos pode induzir em erro, pois podemos estar a tratar o agradável ou uma mera questão de gosto. Um gótico, por exemplo, interessar-se-á mais por uma natureza num estado mórbido ou grotesco, onde identificará os seus ideais, do que aquele que procura precisamente o oposto. Com isto não quero dizer que a natureza não seja bela, talvez seja a maior portadora de elementos que nos fazem confrontar com o sentimento de belo. Enquanto houver o Homem para a julgar, será sempre bela, tanto como sublime ou mesmo grotesca, contudo, como esta sua característica parte de um sentimento que não lhe pertence, a natureza nunca será bela em si, apenas nos conduzirá ao encontro da beleza em determinadas partes do seu todo.